Brasília
- A redução de desigualdades no Brasil e na América Latina não levou a redução
da violência. “O diagnóstico correto seria: menor desigualdade tende a menos
violência”, diz o sociólogo e cientista político Emir Sader. “O maior paradoxo
é estarmos em um país que diminuiu a pobreza, mas tem intensificado a
violência”, acrescentou. Esse ponto de vista será posto para debate na
sexta-feira (13), no Fórum Mundial de Direitos Humanos.
O evento
acontecerá em Brasília de 10 a 13 de dezembro. Sader fará parte da mesa Por uma
Cultura de Direitos Humanos, junto com a professora argentina Alicia Cabezudo e
a presidenta da Comissão Nacional para os Direitos Humanos e Cidadania de Cabo
Verde, Zelinda Cohen. O debate será sobre o papel da educação em direitos
humanos para o desenvolvimento e emancipação do cidadão.
O
cientista político, um dos organizadores do Fórum Social Mundial, analisa a
América Latina à luz dos modelos políticos que regem os países. Em uma das últimas colunas
publicadas em seu blog, ele diz que “para o bloco do governo a
questão central do Brasil é a da desigualdade, da pobreza, da miséria” e
acrescenta que “mesmo quando a economia brasileira sofre um processo de
estagnação, como acontece atualmente, o governo não apenas manteve, como
estendeu e aprofundou as políticas sociais, revelando como se revertia a forma
tradicional de encarar desenvolvimento econômico e distribuição de renda”.
À Agência
Brasil, ele diz que apesar da ênfase na questão social, a
violência aumenta. Prova disso é o levantamento feito pelo país em parceria com
o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado nessa
quinta-feira (5). Os dados mostram que três em cada dez brasileiros que vivem
em cidades com mais de 15 mil habitantes dizem ter sofrido ao longo da vida
algum tipo de crime ou ofensa.
Segundo
o levantamento, agressões e ameaças são os mais comuns, com 14,3% dos
entrevistados tendo sofrido situações do tipo nesse período. Em seguida,
aparecem relatos de discriminação (10,7%), furtos de objetos (9,8%) e fraudes
(9,2%). “Houve um aumento de interesse por direitos humanos, mas nos círculos
pequenos. No conjunto da sociedade isso não chega”.
Para o
cientista político, a fraqueza brasileira é a falta de espaço de socialização,
principalmente nos setores mais pobres. “O sistema educacional não desempenha
esse papel. A escola não é espaço de socialização. O jovem acaba socializando
na rua”, onde, segundo ele, tem contato com o consumismo e outros valores que
podem levar à prática de violência.
Perguntado
sobre as manifestações de junho e julho e a reivindicação de direitos sociais,
como saúde e educação, ele diz que, em última instância, as melhorias sociais
podem levar à redução da violência. Sader ressaltou que não tem respostas
claras sobre o que leva as pessoas a cometerem atos violentos ou como as
pessoas assumem a ideia de direito. "É um pouco do que vou levar à
debate".
A mesa
de debate está agendada para as 10h. No site do
Fórum é possível ter acesso a programação e outras informações sobre o evento.
Da agência Brasil
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