De todos os grupos de
mídia brasileiros, nenhum exaltou tanto as "jornadas de junho" como a
Globo; Jornal Nacional, Globonews, Fantástico, Globo Repórter... toda a máquina
de informação da família Marinho foi mobilizada para colocar o povo nas ruas;
agora, em capa da revista Época, os irmãos Marinho gritam "Basta" e
dizem que "Somos todos Santiago"
Quem
não se lembra das lindas manifestações iniciadas nas jornadas de junho? O povo
nas ruas disposto a botar pra quebrar e a brigar até por bandeiras defendidas
pelas Organizações Globo, como a PEC 37, que garantia superpoderes ao
Ministério Público. De todos os grupos de mídia, nenhum fez tanto para
estimular aquela onda como a Globo. No Jornal Nacional, no Bom Dia Brasil, na
Globonews, no Fantástico e no Globo Repórter, toda a máquina de informação dos
irmãos Marinho foi mobilizada para manter elevada a temperatura dos protestos.
Neste
fim de semana, porém, em capa da revista Época, a Globo pede um basta. E na
reportagem principal da revista diz que "Somos todos Santiago". Leia,
abaixo, um trecho:
Somos todos Santiago
O rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade
atingiu cada um de nós. É preciso dar um “basta!” à escalada da intolerância e
da violência nas manifestações de rua
GUILHERME EVELIN E HELIO GUROVITZ, COM RAPHAEL GOMIDE E VINÍCIUS
GORCZESKI
ornalistas
são os olhos, ouvidos e vozes de uma nação. Olhos, ouvidos e vozes que
trabalham para todos. É por meio dos olhos das câmeras que vemos o que acontece
em locais distantes. Por meio dos ouvidos dos microfones que escutamos o que os
outros têm a nos dizer. Por meio das vozes que narram as histórias que tentamos
entender o mundo, compreender nosso tempo, alcançar um conhecimento modesto
sobre o pouco que cabe a cada um de nós saber nesta vida. Sem olhos, sem
ouvidos, sem vozes, restam apenas ignorância, escuridão, silêncio.
Qualquer
ataque à imprensa é um ataque a esses olhos, ouvidos e vozes. Quem ataca a
imprensa ataca olhos, ouvidos e vozes que trabalham para si próprio, que
estendem sua própria visão, sua própria audição e sua própria voz. Quem ataca a
imprensa não quer apenas cegar o outro – quer também ficar cego. Não quer
apenas ensurdecer o outro – quer também ficar surdo. Não quer apenas calar o
outro – quer também ficar mudo.
Ser
os olhos de todos nós era o trabalho do jornalista e cinegrafista Santiago
Andrade, da Rede Bandeirantes de Televisão. Santiago foi
atingido com um rojão na cabeça, enquanto trabalhava na cobertura de protestos
contra o reajuste da tarifa de ônibus, no Rio de Janeiro na quinta-feira, dia 6
de fevereiro. Sua morte na última segunda-feira, dia 10, fez dele a primeira
vítima a morrer num conflito provocado pela espiral de manifestações que
tomaram o país desde as jornadas de junho do ano passado, quando milhões de
brasileiros foram às ruas protestar inicialmente contra reajustes nas tarifas
de ônibus, depois contra carências de toda sorte.