Aos 89 anos, o militar aposentado Augusto
Sonesso esbanja saúde. Vai ao cl
ube diariamente, faz musculação, nada e joga
bilhar com os amigos. Viúvo há três anos, tem filho, nora e netos, mas prefere
morar sozinho.
Entre 1992 e 2012, o número deles triplicou, passando de 1,1
milhão para 3,7 milhões –um aumento de 215%, segundo as PNADs (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio), do IBGE.
No mesmo período, a população de idosos acima de 60 anos passou de 11,4 milhões
para 24,8 milhões, um crescimento de 117%.
Há várias hipóteses para explicar a tendência, entre elas a
feminização do envelhecimento. Entre os idosos hoje morando sozinhos, 65% são
mulheres.
"Em geral, elas já criaram os filhos, estão viúvas ou
separadas e querem manter autonomia", diz Alexandre Kalache, que já
dirigiu o programa de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde e preside
o Centro Internacional de Longevidade.
Mas mesmo entre os homens, há sinais de uma maior independência. O
percentual dos que vivem sozinhos passou de 31% para 35% nas últimas duas
décadas.
Segundo Kalache, outra explicação é o fato de que hoje existe uma
maior dispersão e fragmentação das famílias, com muitos filhos não morando na
cidade dos pais.
Essas mudanças, associadas ao aumento da longevidade, têm levado
as pessoas a ver com mais naturalidade a decisão de um idoso morar sozinho, de
acordo com Marília Berzins, doutora em saúde pública pela USP e presidente do
Observatório da Longevidade.
"O que antes era tido como sinal de abandono, agora é visto
como autonomia."
SUPORTE
De olho nesse filão, empresas estão investindo em produtos que dão
suporte aos idosos que vivem sós.
É a chamada teleassistência, por meio da qual centrais que
funcionam 24 horas monitoram o idoso dentro e fora de casa (veja texto ao
lado).
Augusto Sonesso é um dos usuários dessas tecnologias. Tem uma
pulseira com identificação e alarme e já precisou de ajuda duas vezes, quando
sofreu queda de pressão e desmaiou. "Isso me deixa mais mais seguro de viver
sozinho", diz ele.
O filho, Eduardo, e a nora, Maria Teresa, moram na Granja Viana, a
20 km do apartamento onde Sonesso vive, no Paraíso (zona sul).
"Em uma emergência, não dá tempo de chegar. Ficamos mais
tranquilos sabendo que, se acontecer algo, a empresa nos avisa imediatamente e
providencia socorro rápido", afirma Maria Teresa.
SERVIÇOS PÚBLICOS
Mas, segundo os especialistas, há muitos idosos vivendo sozinhos,
sem amparo da família e sem condições de bancar assistência privada.
Alguns municípios começam a se organizar para oferecer serviços
públicos de teleassistência. A cidade de Joinville (SC), por exemplo, já
implantou um e Santos desenvolve um projeto piloto.
"Com o envelhecimento da população, esse tipo de assistência
será fundamental. O poder público precisa se organizar para isso, como já
fizeram países como Portugal e Inglaterra", diz Kalache.
Em São Paulo, há um projeto da prefeitura de oferecer
teleassistência a 10 mil residências onde moraram idosos sozinhos ou que ficam
muito tempo a sós porque os filhos trabalham fora.
A proposta, segundo Marília Berzins, autora do projeto, é priorizar idosos
acima de 70 anos, com pelo menos três doenças crônicas, como diabetes e
cardiopatias.
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal da Saúde,
há um processo de abertura de licitação em andamento para a contratação do
serviço em 2014.
Do UOL