OITO EM CADA DEZ ESCOLAS MARANHENSES NÃO TÊM NENHUM COMPUTADOR. SÓ 0,11%
DOS COLÉGIOS POSSUEM CONDIÇÕES AVANÇADAS. PARÁ, AMAZONAS, ACRE E PIAUÍ TAMBÉM
TÊM MAIS DE 70% DAS ESCOLAS COM ESTRUTURA ELEMENTAR
Mais de 80% das escolas maranhenses não oferecem
computadores a seus professores e alunos. Estudo realizado por pesquisadores da
Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) mostra que grande parte dos colégios brasileiros só possui condições
mínimas de funcionamento (44,5%).
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O Maranhão é o Estado que possui a
infraestrutura escolar mais precária do País. Oito em cada dez dos mais de 13
mil colégios maranhenses (80,7%) oferecem apenas água, sanitários, cozinha,
energia elétrica e esgoto aos funcionários e alunos que os frequentam. Não há
salas para diretores, TV, DVD, computadores ou impressoras nessas unidades.
Se oferecessem esses equipamentos, as
escolas entrariam em outra categoria, avaliadas com infraestrutura básica.
Apenas 16,2% das unidades escolares se encontram nessa situação. Por outro
lado, as instituições “adequadas” – que possuem, além da infraestrutura básica,
sala de professores, biblioteca, laboratório de informática, quadra esportiva,
parque infantil e acesso à internet – são mínimas (2,96%, que representam 404
colégios) e as avançadas, 0,11%.
As condições avançadas foram
definidas pela oferta de laboratório de ciências e ambientes adaptados para o
atendimento de alunos com necessidades especiais. Em todo o Brasil, o cenário
se repete: somente 0,6% dos colégios brasileiros podem ser considerados dentro
dessa categoria. No Maranhão, há apenas 15 escolas – entre públicas e privadas
– nessa condição.
Os pesquisadores criaram uma escala
de avaliação da infraestrutura escolar a partir de dados do Censo Escolar 2011
sobre estrutura e equipamentos dos colégios. O iGapresentou
os resultados do
estudo no ano passado. Agora, os estudiosos fizeram a análise por
Estado.
Ao todo, foram avaliadas 194.932
escolas das redes pública e privada. No Censo, havia dados sobre 263.833, mas
as que estavam com atividades paralisadas ou inativas e as que não haviam
preenchido corretamente o censo foram excluídas da amostra. Os pesquisadores
utilizaram a Teoria de Resposta ao Item (TRI), método estatístico usado no Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem), para criar a escala de avaliação.
As quatro categorias foram criadas a
partir de 22 itens: abastecimento de água, energia elétrica, esgoto sanitário,
sala de diretoria, sala de professor, laboratório de informática, laboratório
de ciências, sala de atendimento especial, quadra de esportes, cozinha,
biblioteca, parque infantil, sanitário (para educação infantil e deficientes
físicos), dependências para deficientes físicos, TV, DVD, copiadora,
computadores, impressora e internet.
Desigualdades
Os responsáveis pela pesquisa –
Joaquim José Soares Neto, Girlene Ribeiro de Jesus e Camila Akemi Karino (todos
da UnB) e Dalton Francisco de Andrade, da UFSC – pretendem acompanhar a
evolução da infraestrutura ano a ano e medir o impacto das estruturas no
aprendizado do aluno.
Para eles, as análises por Estado
mostram que há muitos problemas de investimento nos locais mais pobres do País.
Situação que não melhorou em 2012, de acordo com as primeiras análises feitas
por eles a partir do último Censo Escolar (ainda em análise por eles).
Depois do Maranhão, Pará, Amazonas,
Acre e Piauí aparecem entre os que possuem a infraestrutura mais precária. As
redes desses Estados possuem, respectivamente, 77,3%; 75,97%; 75,92% e 70,4%
das escolas em condições elementares. As regiões Norte e Nordeste aparecem no
topo da lista dos mais precários.
No outro extremo, estão Estados da
região Centro-Oeste, Sul e Sudeste. O Distrito Federal possui a melhor
infraestrutura escolar do Brasil. Apenas 0,98% dos colégios da capital têm
condições elementares e 60,11%, adequadas. Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de
Janeiro e São Paulo têm menos escolas em situação elementar. No entanto,
concentram a maior parte das escolas em situação básica (veja tabela abaixo).
Antonio Augusto Gomes Batista,
coordenador do Desenvolvimento de Pesquisas do Centro de Estudos em Pesquisas
em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), ressalta que a qualidade de
ensino depende de uma boa estrutura, porque os professores e os alunos precisam
se sentir bem no ambiente para ensinar e aprender.
“As instalações são fundamentais para
desenvolver um trabalho pedagógico adequado. A qualidade depende desse
ambiente. A escola tem de ser um lugar agradável e ter todos os equipamentos
necessários para o professor fazer seu trabalho e a criança aprender. Não são
duas coisas distintas”, afirma.
Batista lembra que, na década de
1970, a grande preocupação dos gestores era a construção de escolas para o
atendimento da demanda por vagas. “Eles se preocupavam com os aspectos mais
visíveis. Depois, passaram a falar da qualidade apenas, como se ela não
estivesse ligada às instalações adequadas”, lamenta.
Investimentos e gestão
O Maranhão precisa de mais recursos
para investir em infraestrutura, acredita Daniel Cara, coordenador da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação. Para sanar os problemas, ele acredita que o
repasse de verbas da União para as redes municipais e estadual teria de ser
maior. Mais dinheiro, porém, não seria útil sem aprimoramento de gestão.
“O Maranhão faz muita renúncia
fiscal, por isso acaba dependendo mais da União do que outros Estados. Mas,
além de deixar de arrecadar, há problemas de gestão lá. O governo federal
precisaria participar mais da gestão da educação básica no Estado. Não adianta
transferir dinheiro se os gestores não executarem os projetos”, afirma.
Para Cara, mais do que impacto na
qualidade de ensino, a infraestrutura dá “dignidade” aos alunos e profissionais
de educação. O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, ele ressalta,
financia inúmeros projetos para melhorar a estrutura das escolas. “No fundo,
falta vontade política para isso. E o pior é que a situação do Maranhão não é
exceção”, critica.
De 13.639 escolas maranhenses
avaliadas no estudo, 11.007 têm infraestrutura elementar. Quase todas estão
localizadas em áreas rurais (9.244). Nessas regiões, há apenas um colégio
considerado avançado e 20 adequados. Na área urbana, o cenário melhora pouco.
Quase a metade (1.763 de 3.924 colégios) possui estrutura elementar, outros
1.763 são básicos, 384 adequados e 14 avançados.
Dados da Secretaria de Educação do
Maranhão comprovam que a estrutura oferecida a alunos e professores precisa
melhorar. Em 2012, havia 259 escolas funcionando em templos ou igrejas, outras
16 em salas de empresa e 310 nas casas dos próprios professores (a maioria em
área rural). Mais de 2 mil escolas funcionam em galpões, ranchos, paios ou
barracões. As bibliotecas só existem em 1.716 escolas.
Em nota enviada ao iG, a
Secretaria de Educação do Maranhão afirmou ter feito um convênio, no ano
passado, com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o
Ministério da Educação (MEC) para definir “padrões mínimos das salas de aula,
laboratórios, sanitários, bem como demais ambientes das escolas de ensino médio
da rede estadual de educação do Maranhão”.
Até 2015, 1.233 colégios estaduais
serão adequados ao projeto de funcionamento. “A meta é melhorar o ambiente
físico das escolas, que serão dotadas de equipamentos e mobiliários
padronizados e modernos. Essas escolas selecionadas serão climatizadas,
reformadas, ampliadas e receberão carteiras e iluminação padronizadas”, diz a
nota.
ESTADOS
|
ELEMENTARES (%)
|
BÁSICA (%)
|
ADEQUADA (%)
|
AVANÇADA (%)
|
TOTAL
|
MA
|
80,71%
|
16,22%
|
2,96%
|
0,11%
|
13638
|
PA
|
77,30%
|
18,78%
|
3,77%
|
0,15%
|
11918
|
AM
|
75,97%
|
17,69%
|
6,04%
|
0,30%
|
5614
|
AC
|
75,92%
|
16,33%
|
7,52%
|
0,23%
|
1715
|
PI
|
70,40%
|
23,74%
|
5,65%
|
0,21%
|
6602
|
PB
|
68,01%
|
26,36%
|
5,49%
|
0,14%
|
6214
|
BA
|
66,65%
|
27,92%
|
5,14%
|
0,28%
|
20492
|
RR
|
64,16%
|
26,95%
|
8,34%
|
0,55%
|
731
|
AL
|
60,32%
|
30,64%
|
8,89%
|
0,15%
|
3329
|
PE
|
59,01%
|
31,41%
|
9,25%
|
0,33%
|
10153
|
AP
|
58,43%
|
30,14%
|
10,70%
|
0,74%
|
813
|
SE
|
56,68%
|
32,46%
|
10,52%
|
0,34%
|
2320
|
RN
|
53,24%
|
33,34%
|
13,05%
|
0,36%
|
4130
|
CE
|
47,87%
|
38,36%
|
13,25%
|
0,52%
|
8953
|
TO
|
44,06%
|
40,02%
|
15,60%
|
0,32%
|
1859
|
ES
|
39,28%
|
37,80%
|
21,33%
|
1,59%
|
3450
|
RO
|
38,28%
|
45,91%
|
14,70%
|
1,12%
|
1429
|
MG
|
33,53%
|
44,32%
|
21,45%
|
0,70%
|
17384
|
MT
|
28,44%
|
50,23%
|
20,65%
|
0,68%
|
2658
|
SC
|
24,65%
|
49,29%
|
24,38%
|
1,68%
|
6502
|
RS
|
20,35%
|
48,34%
|
29,70%
|
1,62%
|
10015
|
GO
|
18,71%
|
57,20%
|
23,39%
|
0,71%
|
4528
|
SP
|
16,50%
|
67,72%
|
15,67%
|
0,12%
|
27781
|
RJ
|
15,92%
|
55,86%
|
27,17%
|
1,05%
|
10749
|
PR
|
15,63%
|
51,92%
|
30,83%
|
1,62%
|
9193
|
MS
|
8,63%
|
49,20%
|
40,88%
|
1,29%
|
1634
|
DF
|
0,98%
|
36,17%
|
60,11%
|
2,75%
|
1128
|
BRASIL
|
44,50%
|
40,04%
|
14,89%
|
0,57%
|
194932
|