São
Paulo - Uma pesquisa elaborada pelo Data Popular a pedido do Instituto Avon
revelou que 56% dos homens já tiveram atitudes que caracterizam violência
doméstica contra suas parceiras. De acordo com a pesquisa Percepções dos Homens
sobre a Violência Doméstica contra a Mulher, divulgada hoje (29), na
capital paulista 41% dos brasileiros conhecem pelo menos um homem que tenha
sido violento com sua parceira. Para fazer a pesquisa foram entrevistados 995
homens e 505 mulheres a partir de 16 anos em 50 municípios das cinco regiões do
país.
A
pesquisa mostrou ainda que 16% dos entrevistados admitem já ter sido agressivos
com a companheira. Mas quando listada uma série de atitudes consideradas
violentas, é que se chega ao resultado de 56% deles admitindo terem sido
agressivos. Entre os itens apontados estão: xingou, empurrou, ameaçou com
palavras, deu um tapa, um soco, impediu de sair de casa, arremessou algum tipo
de objeto, humilhou em público,obrigou a fazer sexo sem vontade e ameaçou com
arma.
Segundo
o estudo 53% dos homens entram no casamento com expectativa de felicidade, mas
a mesma porcentagem atribui à mulher a responsabilidade pelo sucesso da união.
Ainda dentro das expectativas 85% acham inaceitável a mulher ficar alcoolizada
69% não concordam que ela saia com amigos sem sua companhia e 46% consideram
inaceitável o uso de roupas justas e decotadas.
O
estudo indicou também que a mulher ainda é vista como responsável pelo trabalho
doméstico, já que 89% não aceitam que a mulher não mantenha a casa em ordem. Em
outro aspecto a pesquisa constatou que 29% dos entrevistados acreditam que o
homem só bate porque a mulher provoca e 23% batem porque só assim a mulher
"cala a boca", além de que 12% acha que têm razão em bater na mulher
caso ela os traia.
De
acordo com o estudo o ambiente na infância pode ser o fator influente no
comportamento do homem adulto 67% dos agressores presenciaram discussões dos
pais quando crianças, enquanto entre os não agressores esse número cai para
47%. Entre os agressores 21% viram violência física e entre os não agressores
esse índice cai para 9%.
Quando
questionados sobre a Lei Maria da Penha 92% dos homens se disseram favoráveis,
mas 35% afirmaram que a desconhecem parcial ou totalmente. A maioria dos homens
não entende que a lei atua para diminuir a desigualdade de gênero. Para
37% as mulheres desrespeitam mais os homens por causa da lei e 81%
defendem que os homens também deveriam ser protegidos pela lei.
O
presidente da Avon, David Legher observou que a pesquisa mostrou que a
sociedade ainda está muito longe de poder dizer que a violência doméstica não
existe. Segundo ele a ideia de ouvir homens nesta edição da pesquisa que é
feita desde 2009, veio para sentir as impressões do gênero sobre o tema e o
resultado impressionou. "No Brasil a cada quatro minutos uma mulher é
vítima de violência doméstica e a cada minuto uma morre em função disso. Temos
que erradicar esse comportamento da sociedade. A pesquisa mostra que a mulher
acha normal que isto aconteça. O primeiro passo é a mulher acordar desta
situação. Tem que perceber e contar esta história para alguém", ressaltou.
A
ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da
República, Eleonora Menicucci, destacou que o poder público não tem condições
de enfrentar esta realidade sozinho e para acabar com a violência contra as
mulheres é necessário que os movimentos sociais e empresas participem. “As
parcerias com empresas e movimentos sociais são uma determinação do Governo
Federal. Temos que aproveitar e transformar isto em políticas pública, porque
neste momento se reconhece a existência do fenômeno. E estas políticas
públicas devem reverter de fato estes dados”.
O fato
de muitas atitudes violentas serem consideradas normais pelos homens e nem
serem lembradas por eles é cultural e patriarcal, como se fizesse parte do
contrato do casamento. Eleonora lembrou que até dez anos atrás as feministas
ficavam isoladas sem conseguir mostrar essa realidade. “No governo de Luiz
Inácio Lula da Silva as políticas ficaram mais sérias e punitivas. O machismo
existe e temos que mudar essa sociedade sexista. Nas novas gerações já há
mudanças de comportamento”.
A
ministra disse não ver muitas mudanças entre os homens adultos. “Depende do
meio em que vive, a cultura em que está envolvido, mas acredito que estamos no
caminho certo porque a sociedade está inteiramente mobilizada. Esta mudança de
mentalidade é para mim os maiores desafios. Devem ser feitas campanhas acesso
maior das mulheres à informação, acolhimento maior e julgamentos exemplares”,
explicou.
Agência Brasil