Com base em uma Ação Civil Pública protocolada pelo Ministério
Público do Maranhão em maio de 2011, a Justiça concedeu decisão que obriga o
Estado do Maranhão a construir novos estabelecimentos prisionais,
preferencialmente no interior do estado, e a realizar reformas e adaptações nas
unidades que integram o Complexo Penitenciário de Pedrinhas no prazo máximo de
60 dias.
A decisão da Vara de Interesses Difusos e Coletivos da Comarca
da Ilha de São Luís, assinada nesta segunda-feira, 13, pelo juiz Manoel Matos
de Araújo Chaves, prevê, ainda, prazo de 30 dias para que sejam nomeados todos
os candidatos aprovados para o cargo de agente penitenciário e efetivadas
medidas concretas para o cumprimento da Lei de Execuções Penais (LEP) no que
diz respeito à integração social dos presos. Para cada ponto da decisão foi
definida multa de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
O processo estava concluso para sentença, ou seja, aguardava
decisão do Poder Judiciário desde 18 de janeiro de 2013.
A ação, proposta pela promotora de justiça Márcia Lima Buhatem,
titular da 1ª Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos (à época
chamada de 9ª Promotoria de Justiça Especializada na Defesa da Cidadania),
baseou-se na insalubridade do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, apontada no
"Relatório das inspeções para verificação das condições gerais das
unidades prisionais e penais", realizadas em junho de 2010 pela Vigilância
Sanitária.
Para a procuradora-geral de justiça, Regina Lúcia de Almeida
Rocha, a decisão é fundamental para que se busque a solução dos problemas
enfrentados no sistema penitenciário de São Luís. "O Ministério Público
tem se mostrado vigilante e atuado de forma incansável no que diz respeito a
garantir o cumprimento da lei , o respeito à dignidade humana e, acima de tudo,
a segurança da população maranhense", enfatizou.
PROBLEMAS
Entre os principais problemas apontados na ação, estavam a falta
de água, alimentação inadequada, problemas no fornecimento de energia elétrica,
inexistência de espaços laborais, falta de materiais de trabalho para os
funcionários, além da carência de servidores qualificados para as áreas
técnicas, administrativas e de segurança. Os monitores de fiscalização, por
exemplo, são funcionários de uma empresa privada contratada para auxiliar nos
serviços de segurança interna. No entendimento do Ministério Público, o
trabalho deveria ser executado por servidores públicos concursados.
O problema seria ampliado pela escassez de viaturas,
equipamentos de segurança, informática, móveis e até fardamentos para detentos
e funcionários. A degradação da estrutura física dos prédios também dificulta o
cumprimento da Lei de Execuções Penais. Foi verificado que paredes, pisos,
canos, redes elétricas e hidráulicas estavam danificadas.
O Relatório de Inspeção, divulgado em 2010, destaca que a
ausência de iluminação, ventilação e o número excessivo de detentos comprometem
a saúde dos internos e dos servidores. A mistura de detentos portadores de
doenças infectocontagiosas com os demais piora o quadro.
"Há o total desrespeito do Executivo Estadual às leis
sanitárias, de execução penal, bem como aos direitos humanos fundamentais
garantidos pela Constituição Federal e normas e tratados internacionais
ratificados pelo Brasil", destacou, à época, a promotora de justiça Márcia
Buhatem.
A mesma promotoria propôs ação civil pública, em 16 de fevereiro
de 2012 (Processo n° 7.639/2012) pedindo a reforma do Instituto Médico Legal e
Instituto de Criminalística (IML/ICRIM), que já possui inclusive decisão
liminar favorável, de 2012; e outra, em 1° de agosto de 2001 (Processo n°
11.512/2001), na qual cobra a reforma das Delegacias de Polícia da capital, que
tramita no Judiciário desde 2001 e já foi julgada procedente em todas as
instâncias. Atualmente o processo encontra-se em fase de execução da decisão,
tramitando na Vara de Interesses Difusos e Coletivos.
REUNIÃO
Na tarde desta segunda-feira, 13, representantes do Ministério
Público do Maranhão participaram de uma reunião conjunta com a Defensoria
Pública e os senadores da Comissão de Direitos Humanos que estiveram em São
Luís para verificar a situação enfrentada no Complexo Penitenciário de
Pedrinhas.
Estiveram presentes o coordenador do Centro de Apoio Operacional
Criminal, José Cláudio Cabral Marques, a diretora da Secretaria para Assuntos
Institucionais da Procuradoria Geral de Justiça, Fabíola Fernandes Faheina
Ferreira, o promotor de justiça e assessor da procuradora-geral de justiça,
Emmanuel Guterres Soares, e a promotora de justiça Camila Gaspar Leite, que
representou a Associação do Ministério Público do Estado do Maranhão (Ampem).
Durante a reunião, os representantes do MPMA entregaram aos
senadores Ana Rita (PT-ES), João Capiberibe (PSB-AP), Randolfe Rodrigues
(PSOL-AP), Humberto Costa (PT-PE) e João Alberto Souza (PMDB-MA) um relatório
elaborado pela instituição sobre as medidas que já vinham sendo adotadas e as
providências tomadas pelo Ministério Público diante da atual realidade
prisional no Maranhão.