BRASÍLIA e SÃO PAULO - O Departamento Penitenciário Nacional (Depen),
ligado ao Ministério da Justiça, informou na noite desta terça-feira que 22
presos do estado do Maranhão já foram transferidos para penitenciárias
federais. Segundo nota do Depen, outras vagas em presídios federais serão
disponibilizadas ao governo maranhense com o objetivo de isolar os envolvidos
na onda de violência que ocorre no estado nos últimos dias. As áreas técnicas
do Ministério da Justiça e do Maranhão estão organizando a retirada destes
presos que ocorrerá em curto espaço de tempo, afirmou o Depen.
O órgão afirmou que entre 2003 e 2013, o governo federal investiu cerca
de R$ 55 milhões na construção de sete presídios e melhorias nas unidades
existentes, que criariam 1.621 novas vagas, mas que esses recursos não foram
utilizados e os recursos foram devolvidos, por reprovação dos projetos.
Mas a transferência dos presos não é a solução, na avaliação do
secretário de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão, Sebastião
Uchôa. Ele afirmou hoje que a transferência de detentos para presídios federais
como forma de resolver os problemas penitenciários nos estados é um mito e que
medida é como “enxugar gelo e adiar o problema”, pois ao retornar ao sistema
carcerário estadual, o criminoso volta mais violento e intimida os outros
detentos. Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Uchôa negou que o
governo de Roseana Sarney (PMDB) tenha sido moroso para combater a crise na
segurança pública e que tenha demorado a aceitar a ajuda da União.
— Quando a gente transfere, (o preso) volta pior do que foi. Ou seja,
volta com o título, com o rótulo, volta com autoafirmação, volta se achando o
máximo porque puxou cadeia federal. E isso é péssimo perante a massa que fica
se sentindo dentro de uma relação de subjugo — disse o secretário.
— Estrategicamente não tem sido muito bom isso de transferência. Na
verdade, existem mitos por trás disso. O Estado tem de se adequar para
presídios de segurança máxima e administrar seus próprios problemas —
completou.
Uchôa negou que o governo tenha demorado em aceitar a oferta federal,
formalizada no domingo e aceita na segunda-feira. Ele disse que a transferência
dos presos não começou porque é preciso seguir um trâmite burocrático e outro
judicial, com autorizações concedidas pela Justiça.
— Vamos colocar os pés no chão. Não podemos estar transferindo presos
apenados porque estão vinculados direta ou indiretamente a facção A ou B.
Precisamos fazer a seleção rigorosa para não cometermos injustiça. Outro fato
interessante: cada processo deve ter um histórico detalhado não só
penitenciário, como processual. Tem um trâmite administrativo. O presídio
federal só recebe (o preso) depois que o juiz federal autorizar — disse ele.
Presídio de segurança máxima só em seis meses
Segundo Uchôa, o governo deve concluir, em seis meses, um presídio de
segurança máxima para abrigar os detentos de alta periculosidade. No ano
passado, a guerra de facções deixou um saldo de mais de 50 presos mortos,
muitos por decapitação, além de estupros e violência contra a população de São
Luís. Na semana passada, os criminosos incendiaram ônibus com cidadãos dentro
deles, resultando na
morte de uma menina de seis anos.
— Faremos a transferência deixando bem claro que, concluindo o novo
presídio, vamos trazer tudo de volta porque temos de cuidar do que é nosso —
disse o secretário, ao afirmar que as críticas a uma inação do governo estadual
são “um equívoco muito grande e uma injustiça também”.
Um vídeo com cenas de decapitação de um detento no presídio de Pedrinhas
foi divulgado na internet, o que, para o secretário, aumentou o clima de terror
no estado. O secretário disse não saber informar se o vídeo mostra cenas reais do
presídio, mas afirmou que em outubro já havia recebido imagens desse crime na
mesma cadeia.
— Acredito que (o vídeo) seja a mesma imagem de outubro do ano passado.
O secretário de Justiça e Administração Penitenciária do Maranhão disse,
também, não ter sido informado da ação da Tropa de Choque da Polícia Militar
(PM) no presídio de Pedrinhas, cuja repercussão teria dado origem à onda de
violência no estado. O episódio ocorreu no último dia 3 de janeiro.
— A ação que eu tenho conhecimento é a de que estão sendo feitas
constantemente revistas nas unidades por parte da Polícia Militar com relação à
preservação da ordem interna prisional – explicou. Ele frisou que estava em
recesso na ocasião e voltou ao trabalho somente na segunda-feira.
— Se houve algum excesso (por parte da PM), será apurado e punido. A lei
é para todos.
Sebastião Uchôa disse ainda que existe no país “um conceito
ultraequivocado de pena” e garantiu que o governo do Maranhão está fazendo o
possível para reverter o quadro de violência no estado.
— Outros governos talvez não teriam a coragem do que está se fazendo
hoje (no Maranhão) — concluiu.
Em nota divulgada
nesta terça-feira, a ministra Maria do Rosário afirmou que
interrompeu seu período de férias para tratar do assunto. Ela convocou reunião
do Conselho de Defesa de Direitos da Pessoa Humana para quinta-feira para
debater a situação e “avaliar quais medidas podem ser tomadas para fazer cessar
imediatamente as violações de Direitos Humanos e a violência como um todo que
têm ocorrido no Maranhão”.
Segundo o Ministério da Justiça, R$ 1,4 bilhão foi investido na
construção de 149 novas unidades prisionais em todo o país, além de outros
recursos para melhoria dos presídios.
De o globo