Diante das
irregularidades trabalhistas presentes no sistema prisional maranhense, o
Ministério Público do Trabalho no Maranhão (MPT-MA) ingressou, neste mês de
julho, com uma Ação Civil Pública contra o Estado do Maranhão, a gestora
pública Roseana Sarney (governadora do Estado) e as empresas terceirizadas
Gestor, VTI Serviços e Atlântica Segurança. O MPT pede R$ 153 milhões de
indenização por dano moral coletivo. O valor é recorde na história da
instituição.
Dos
R$ 153 milhões postulados na ação, o Governo do Estado poderá arcar com R$ 40
milhões; Roseana Sarney poderá desembolsar R$ 50 milhões; as empresas VTI e
Gestor, R$ 30 milhões cada uma; e a Atlântica, R$ 3 milhões.
O
MPT-MA acompanha a situação dos presídios desde o ano passado. O órgão realizou
inspeções em presídios de São Luís e Imperatriz. Na capital, das quatro
unidades visitadas, três fazem parte do Complexo de Pedrinhas: Centro de
Triagem, Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ) e Centro de Detenção
Provisória (CDP). A outra unidade era a CCPJ do Anil. Em Imperatriz, a unidade
vistoriada foi a CCPJ.
Relatórios
produzidos por outras instituições, como a Vigilância Sanitária, o Conselho
Nacional do Ministério Público e o Conselho Nacional de Justiça, também
ajudaram no embasamento da Ação Civil, que tem como foco as irregularidades no
meio ambiente de trabalho.
Problemas
O MPT
observou o descumprimento de normas de saúde, segurança e meio ambiente de
trabalho. Segundo as procuradoras responsáveis pela ação, Luana Lima Duarte e
Virgínia de Azevedo Neves, houve falhas no fornecimento de equipamentos de
proteção individual (EPI). "Verificou-se, nas inspeções, que não havia
coletes à prova de balas para os agentes penitenciários. E quando havia, os
mesmos estavam com prazo vencido", explicou Luana.
"Os
monitores, que trabalham na condução dos presidiários e em revistas em celas,
expõem-se a risco biológico e perigo de morte, por não possuírem equipamentos
como coletes, luvas, máscaras e óculos de segurança", acrescenta Virgínia.
Dentre
as outras irregularidades constatadas, destacam-se: ausência de programas de
controle médico de saúde ocupacional e de prevenção de riscos ambientais; não
realização de exames médicos admissionais; precariedade das edificações –
inclusive com risco iminente de queda em altura aos trabalhadores; ausência de
ergonomia; condições sanitárias inadequadas e falta de segurança nas
instalações elétricas – oferecendo riscos de choque elétrico e princípio de
incêndio.
Tanto
servidores públicos quanto trabalhadores das três empresas terceirizadas
afirmaram que não recebem o adicional de insalubridade. Nos alojamentos
destinados ao repouso dos servidores em regime de plantão, a higienização do
ambiente era precária, não havia roupas de cama (lençol, cobertor e
travesseiro), a iluminação era deficiente e os ventiladores e aparelhos de
ar-condicionado estavam danificados.
As
cozinhas e refeitórios apresentaram falhas na estrutura (piso, paredes e
janelas) e não possuíam equipamentos de combate a incêndios. "Não há
sinalização de segurança para orientação dos trabalhadores em caso de evacuação
do prédio", ressaltam as procuradoras.
Danos
psicológicos
Durante
as investigações, uma assistente social e uma psicóloga do MPT entrevistaram
cerca de 30 trabalhadores nos presídios. Houve relatos de desenvolvimento de
síndrome do pânico, insônia e depressão, além de reclamações de dores no corpo
e de cabeça, stress, medo, tensão, dependência química, dificuldades nas
relações sociais e desgaste físico e mental.
“Imagine
as inúmeras sensações negativas experimentadas por aqueles que têm sua rotina
de trabalho marcada pelo terror, pela insegurança, imundície e extrema
violência. Para eles, a volta para casa é incerta; o trabalho é um cenário de
masmorra medieval, um pesadelo, que não acaba com o fim do expediente”, lamenta
Luana.
Responsáveis
Na
ação, o Ministério Público do Trabalho responsabiliza o Estado do Maranhão
(tomador de serviço), a governadora Roseana Sarney (gestora pública) e as
empresas terceirizadas (Gestor, VTI e Atlântica) pelas irregularidades
trabalhistas identificadas nos presídios. “O Estado tem sido negligente quanto
ao dever de fiscalizar os prestadores de serviços que se ativam no âmbito do
sistema prisional”, avaliam as procuradoras.
Sobre
a participação da gestora Roseana Sarney, a ação civil pública foi categórica:
“A governadora cruzou os braços diante dos graves problemas que se passavam no
sistema carcerário, desrespeitando a dignidade humana de todos os que convivem
naquele deteriorado ambiente. [...] Conclui-se que a chefe do poder executivo
estadual, por sua omissão, tem inegável responsabilidade quanto à degradação do
meio ambiente de trabalho, razão pela qual deverá, solidariamente, em relação
aos demais réus, responder pelo pagamento da indenização por dano moral
coletivo”.
Nesta
ação civil, o MPT cobra a adequação do meio ambiente de trabalho nas prisões.
No entanto, a instituição possui um outro inquérito civil que investiga,
exclusivamente, a terceirização ilícita de mão de obra nos presídios
maranhenses. O caso ainda está em curso.
do portal 247