Com uma população
carcerária 30% maior que a capacidade, a segurança pública do Maranhão teria um
problema ainda maior caso a polícia cumprisse os 5.539 os mandados de prisão
expedidos pela Justiça e que nunca foram cumpridos. Os dados são do Banco
Nacional de Mandados de Prisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
O número de pessoas procuradas pela polícia é maior que o total de
presos no Estado, que chegou, em dezembro, a 4.725, segundo dados da Secretaria
de Estado da Justiça e Administração Penitenciária. Hoje, o Estado do Maranhão
possui 3.607 vagas –-deficit de 1.118 vagas.
Em nota, a AMB (Associação de Magistrados do Brasil) informou que a
quantidade de pessoas foragidas revela a falta estrutura do poder Executivo,
que não prende os foragidos e não consegue controlar a população carcerária.
"Demonstra, além da ineficiência do aparato de segurança estadual,
que o deficit de vagas seria muito maior, caso tais mandados fossem
cumpridos", informou o texto.
Segundo o governo do Estado, o maior culpado pela crise penitenciária
--que resultou em 62 mortes entre 2013 e início deste ano-- é a quantidade
presos que ainda aguardam julgamento e que representam quase metade do total de
detidos nos Estado.
O foco da crise é o complexo
penitenciário de Pedrinhas. Superlotado, com 1.700
vagas e 2.200 presos, o complexo registrou 62 mortes desde o ano passado --60
em 2013 e duas neste ano. Após uma intervenção da PM (Polícia Militar) no
complexo, detentos ordenaram ataques fora do presídio --em um deles uma menina
de 6 anos morreu depois de ter 95% do corpo queimado em um ônibus que foi
incendidado por bandidos.
Segundo a AMB, o Maranhão é o Estado com menor taxa de encarceramento do
país "o que confirma que o caos penitenciário não decorre do excesso de
presos – definitivos ou provisórios".
"Inferno"
Segundo o juiz da Vara de Execuções Penais, Fernando Mendonça, o número
de mandados expedidos pode ser ainda maior, chegando a 12.000
"Muitos dos que têm
mandados expedidos nem sabem que eles existem, são pessoas condenadas por
crimes, mas nunca foram encontradas, por exemplo. A polícia não cumpre por um
motivo ou outro, e o sujeito segue livre", afirmou.
O juiz disse que a
situação de superlotação e de mandados em aberto é conhecida há tempos pelo
governo, que nunca se preparou para o crescimento da população carcerária.
"Têm anos e anos
que o número de vagas sem mantém estável. Uma das alegações que é feita é que a
gente, do judiciário, solta muito. E esses com mandado, se forem presos,
viraria um inferno", disse.
Para o presidente da OAB
(Ordem dos Advogados do Brasil) no Maranhão, Mário Macieira, a crise no sistema
prisional "não é novidade" e é fruto, além da falta de investimento
na estrutura dos presídios no Estado, do descontrole ao interior das unidades,
dominadas pelos detentos.
"Temos de pensar em
medidas como neutralizar as facções que dominam os presídios, criar novas vagas
no sistema prisional e descentralizar a execução das penas, a concentração dos
presos favorece essa situação de violência. Também é urgente a realização de
concurso para Agentes Penitenciários e para policiais militares", afirmou.
Faltam policiais
Ao UOL, o secretário-adjunto
de Segurança Pública do Maranhão, Laércio Costa, afirmou que existe uma grande
carência de policiais militares. Segundo ele, existem hoje 6.700 policiais
militares, quando seriam necessários mais de 15.000.
"Esses 6.700 são
para atender os 217 municípios. Nós temos uma população de 6 milhões de
habitantes, o que dá um média de um policial para cada 890 pessoas, enquanto a
ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda um para cada 350. Estamos com
esses policiais em fase final de treinamento, para aumentar o efetivo, e a
governadora já se comprometeu a chamar mais 1.000 em março", disse.
Em entrevista coletiva
nesta quinta-feira (9), a governadora Roseana Sarney defendeu a PM maranhense e
garantiu que ela é uma das mais eficientes do país.
"[A crise traz] uma
imagem que atrapalha o nosso Estado, que não é violento. Nossas pessoas são
ordeiras. Estamos agindo, e fiquem certos que isso não vai acontecer de novo.
Se acontecer, serão penalizados, como foram agora. Em 30 horas, pegamos todos
os responsáveis pelos atentados. Muito poucos os crimes que não foram
elucidados no Maranhão. Desafio um Estado fazer elucidação de crime mais rápida
que aqui", afirmou.