A estreita relação da candidata Marina Silva com o banco Itaú tem
chamado até mais atenção do que suas polêmicas propostas, como a de interromper
a exploração do pré-sal ou reduzir drasticamente o papel do Estado na economia.
Vale, pois, saber mais sobre o comportamento desse banco.
Para
se ter ideia do papel do Itaú na campanha de Marina Silva, no dia 26 de agosto
a equipe dela participou de reunião com um grupo de investidores brasileiros e
estrangeiros e o evento foi bancado pelo Itau BBA, braço de investimentos do
banco Itaú.
O
Itaú, como se sabe, tem entre seus proprietários Maria Alice Setubal, a Neca,
que produziu o programa de governo de Marina.
Questionado
pela imprensa por ter feito o evento para promover Marina, o Itaú declarou que
promoveu eventos parecidos com Eduardo Campos e Aécio Neves, mas não para Dilma
Rousseff, o que mostra que não é Neca Setubal que está na campanha de Marina,
mas o banco dela.
Diante
disso, o Blog resolveu saber mais sobre o Itaú. Para tanto, foi ouvir a
presidente do Sindicato dos bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, baiana de
Nova Soure. Juvandia chegou a São Paulo em 1990, cursou e se formou em direito
e é pós-graduada em política e relações internacionais.
Recentemente,
Juvandia foi reeleita presidente do sindicato com 82,11% dos votos válidos.
Esse apoio expressivo a credencia a expressar o sentimento da categoria sobre a
eleição presidencial.
Confira,
abaixo, trechos da entrevista
Blog da Cidadania – Os bancários já têm uma
preferência eleitoral majoritária e coesa ou esse é um assunto que ainda está
sendo discutido pela categoria?
Juvandia Moreira – Os bancários de SP e os
do Brasil inteiro mantêm a conferência nacional dos bancários e obviamente nós
discutimos a eleição porque se trata do futuro do Brasil. Uma categoria como a
dos bancários não pode se omitir, mas estou lhe dizendo da posição das pessoas
e não uma posição oficial do sindicato, que não se pronuncia oficialmente sobre
eleições.
Nós,
bancários, fizemos, enquanto categoria profissional, reflexão do que estava em
jogo, quais são os projetos que estão colocados e qual seria a nossa posição, e
ela é a de apoiar a reeleição da presidenta Dilma. Por que? Porque antes dela e
do presidente Lula o país estava submetido a um projeto neoliberal que estava
piorando a vida do trabalhador, com desemprego, privatizações, inflação mais
alta…
Nós
tivemos, nos últimos 12 anos, um governo que promoveu uma política de aumento
do nível de emprego, do valor dos salários e de inclusão social. Uma Política
que consideramos benéfica ao trabalhador brasileiro porque, ao longo desse
período, nossa categoria teve aumentos reais de salário e recuperação do nível
de emprego.
Na
década de 1990, nós não podíamos nem fazer greve por conta do desemprego alto.
Com Lula e Dilma, tudo mudou.
Blog da Cidadania – Recentemente, você se
reelegeu presidente do Sindicato dos Bancários de SP. Na sua campanha à
reeleição, o tema sucessão presidencial constou de sua plataforma? Ou seja:
quando você fala na sua posição política pessoal, o apoio à sua reeleição
significa que a categoria bancária concorda com ela?
Juvandia Moreira – Nossa chapa foi
reeleita com 82% dos votos. Então, a categoria bancária nos conhece, sabe das
nossas posições políticas.
Blog da Cidadania – Qual é o contingente de
bancários paulistas sindicalizados?
Juvandia Moreira – Nós temos 130 mil
bancários, em São Paulo. Sindicalizados, incluindo aposentados etc., são mais
de 60 mil. E se não fossem as demissões no setor nós teríamos muito mais
associados ao sindicato. A rotatividade no setor impede que cresça mais o
contingente de trabalhadores sindicalizados.
Blog da Cidadania – Você já me respondeu
qual é a sua posição política e disse que tal posição é compartilhada ao menos
pelos 82% da categoria que votaram em sua candidatura. Agora, estamos vendo uma
ascensão muito forte da candidatura Marina Silva. Como os bancários enxergam a
possibilidade de ela se eleger presidente?
Juvandia Moreira – Entendemos que o
projeto de Marina não tem nem os mesmos compromissos do projeto de Dilma e
tampouco condições políticas de implementar suas propostas, ainda que nós
discordemos de grande parte dessas propostas.
Qual
é a nossa crítica às outras candidaturas com chances na eleição? É o que essas
candidaturas representam. No caso de Marina, inclusive, falta força política para
realizar tanto o que apoiamos quanto o que não apoiamos em suas propostas.
Blog da Cidadania – Que medidas a Marina
poderia tomar que você considera que seriam danosas? Por exemplo, a anunciada
independência do Banco Central. Como é que os bancários veem uma medida dessas,
que teria tanto impacto no setor de vocês?
Juvandia Moreira – Historicamente (desde
1992), os bancários têm uma posição contrária à autonomia do Banco Central. O
governo tem que fazer política econômica e a autonomia retira dele essa possibilidade.
A
independência do BC interfere no emprego ao interferir na política industrial,
na política de câmbio. Aliás, nem nos Estados Unidos você tem um Banco Central
independente.
Blog da Cidadania – O que você acha de
Marina ter o banco Itaú dentro de sua campanha?
Juvandia
Moreira – Acho que é o Itau que está na campanha de Marina, não só a sua dona.
Todos têm lido as críticas públicas que o Itaú, enquanto instituição, faz ao
governo e à política econômica da presidente Dilma.
Já
faz mais de um ano que o economista-chefe do Itaú tem feito críticas à política
econômica e tem oferecido “soluções” que propõem desemprego e recessão para
combater a inflação, por exemplo.
Os
bancos ganham com políticas de combate a inflação nos moldes que o itaú propõe porque
essas políticas se baseiam quase exclusivamente em aumentar os juros que esses
bancos cobram.
Blog da Cidadania – O Itaú foi multado
pesadamente por sonegação de impostos e com a anuência do governo Dilma. Você
acha que essa multa tem alguma relação com a posição política que o banco
adotou?
Juvandia Moreira – Não sei foi só por
isso, mas é claro que a multa pesou. Mas é, também, porque o banco não gosta da
política econômica de Dilma. Sobretudo a forte redução da taxa Selic até o ano
passado, mesmo que depois tenha subido.
Blog da Cidadania – Por que o governo
multou o Itaú em 18 bilhões de reais?
Juvandia Moreira – Por causa da fusão com
o Unibanco. Nesse processo de fusão, em resumo, tem sonegação, tem cálculo
errado dos impostos a pagar, mas cabe recurso da multa.
Blog da Cidadania – Um banco como o Itaú,
que está tendo tanta influência na campanha eleitoral, que está bancando Marina
Silva, como é que essa instituição se relaciona com os trabalhadores que
contrata?
Juvandia Moreira – O banco que mais tem
dado problema ao sindicato dos bancários nos últimos anos tem sido o Itaú por
conta do grande número de demissões que fez. Se a gente olhar os últimos três
anos, o Itaú eliminou 17 mil postos de trabalho. Em 2004, tinha 104 mil
trabalhadores e tem hoje 87 mil. Isso apesar de o lucro que teve no primeiro
semestre ter crescido 33% em relação ao mesmo período do ano passado. Foi o
banco que mais demitiu.
Blog da Cidadania – Essa conduta do Itaú de
demitir tanto é só dele ou é do sistema bancário?
Juvandia Moreira – Se você olhar os
últimos anos, o Itaú foi o banco mais agressivo em termos de demissões. Repito:
é o banco com o qual o sindicato mais teve problemas. E, depois do Itaú, o
banco que mais demitiu foi o Santander.