Jogando com paciência
e dissimulação, a presidente Dilma Rousseff acaba de ganhar uma trégua do maior
partido aliado - e que mais costuma lhe cobrar cargos. Em reunião com o
vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros, Dilma
obteve o compromisso de que o partido não fará pressões em torno da reforma
ministerial, em troca da garantia, agora, de que a legenda não perderá espaço
no governo.
A
presidente, como 247 assinalou ontem, demonstra não ter tanta pressa em fazer a
reforma ministerial, procurando suavizar os inevitáveis solavancos que esse
movimento causa.
Temer
e Renan reiteraram a Dilma que o PMDB não está satisfeito com as primeiras
conversas em torno da reforma, temendo perder cargos. Mas a presidente procurou
evitar qualquer impasse agora. Ela sabe que nem o PMDB quer romper com ela nem
ela pode romper com o PMDB. A tendência é mesmo de acomodação entre eles.
Abaixo,
notícia da Agência Reuters a respeito:
Dilma ameniza tom sobre reforma ministerial e
PMDB dá trégua em busca por mais cargos
Por
Jeferson Ribeiro
BRASÍLIA,
16 Jan (Reuters) - A cúpula do PMDB decidiu que não fará cobranças públicas
para ampliar seu espaço no primeiro escalão do governo até que a presidente
Dilma Rousseff conclua as negociações com outros partidos aliados para
determinar o tamanho da reforma ministerial que iniciará no final de janeiro.
A
decisão foi tomada numa reunião na noite de quarta-feira, segundo um ministro
peemedebista ouvido pela Reuters, depois de muita pressão dos principais
caciques do partido, que estão desde o começo do governo incomodados com o
número de ministérios sob seu comando, apesar de serem o maior aliado do
governo petista no Congresso.
A
trégua por mais cargos só foi possível porque pouco antes da reunião da cúpula
do partido Dilma agiu para amenizar o tom do seu primeiro encontro com o
vice-presidente, Michel Temer, na última segunda-feira, em que havia indicado
que havia pouquíssimas chances do PMDB receber mais cargos na reforma
ministerial.
Segundo
um peemedebista que participou da reunião do partido, Dilma deixou claro nesse
novo encontro com Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
que não está descartada completamente a possibilidade de ampliar o espaço do
PMDB na Esplanada, indicando inclusive que tentará fazer ajustes para atender a
demanda do aliado.
A
reclamação do PMDB por mais cargos no primeiro escalão é antiga e nesse momento
engrossa outras críticas do partido ao PT e ao governo, como as negociações em
torno das alianças eleitorais nos Estados, que também foram debatidas no
encontro de quarta.
O
ministro peemedebista disse, sob condição de anonimato, que Temer e Dilma
avaliaram que a primeira conversa sobre reforma ministerial não foi
satisfatória para ambos os lados e eles zeraram o jogo na reunião de quarta,
abrindo mais espaço par o diálogo.
"A
presidente deixou claro que manterá o atual espaço do PMDB e poderá inclusive
ampliá-lo, dependendo do que será negociado com os aliados e da possibilidade
de mexer em ministérios que não estavam sendo alvo da reforma", explicou o
ministro.
O
outro peemedebista que participou do encontro da cúpula brincou dizendo que os
líderes do partido chegaram para a reunião com Temer pintados para a guerra e
saíram do encontro com as armas recolhidas, pelo menos momentaneamente.
"O
que ficou acertado é que o partido não vai conturbar ainda mais o cenário da
reforma até o final do mês, quando ela deve dar início às mudanças e terá
concluído as conversas com os demais aliados", disse a fonte do partido
pedindo para não ter seu nome revelado.
Hoje
o PMDB comanda cinco pastas --Agricultura, Minas e Energia, Turismo, Aviação
Civil e Previdência-- e pretendia assumir o Ministério da Integração Nacional,
que estava sob o controle do PSB antes da legenda deixar o governo para ter um
projeto próprio na disputa pela Presidência na eleição deste ano.
O
PMDB já havia inclusive indicado o senador Vital do Rêgo (PB) para o posto, mas
essa pasta dificilmente ficará sob controle da legenda. Agora, o partido já
cogita brigar para assumir a pasta dos Portos, que também era do PSB.
Dilma
tem que atender demandas do PP, que hoje comanda o Ministério das Cidades e
quer assumir pelo menos mais uma pasta, do PSD, que comanda a pasta de Micro e
Pequenas Empresas e já se comprometeu a apoiar a reeleição de Dilma, além do
recém criado Partido Republicano da Ordem Social (Pros) e do PTB, que
reivindica um ministério, entre outras reivindicações.
A
reforma ministerial está sendo usada pela presidente para ampliar o seu arco de
alianças para disputar a reeleição em outubro deste ano e, com isso, ter mais
tempo para campanha na TV.