SÃO LUÍS - Os altos índices de violência na Região Metropolitana
de São Luís e as estratégias, conjuntas, a serem adotadas pelas instituições
para combater o problema foram temas debatidos na tarde desta quarta-feira
(18), na audiência "Os números da criminalidade na Grande São Luís".
O evento foi realizado no auditório da Procuradoria Geral de Justiça. Os
trabalhos foram coordenados pelo promotor de justiça José Cláudio Cabral e pelo
juiz federal Ivo Anselmo Hohn.
A
divergência dos dados estatísticos sobre as mortes violentas foi o primeiro
ponto destacado na apresentação do promotor José Cláudio Cabral. O levantamento
realizado pelo Centro de Apoio Operacional do Controle Externo da Atividade
Policial (CAOp-CEAP) do MPMA revelou que, no período de 2010 a 2012, os dados
apresentados pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP), pela
imprensa e pelo Ministério Público são diferentes. "O descompasso dessas
informações dificulta a atuação dos órgãos e mascara a realidade".
Em
2012, segundo a SSP, ocorreram 635 mortes violentas, divergindo das 716
divulgadas na imprensa e de 688 casos, pelos dados do MPMA.
Cabral
também abordou a relação entre o consumo de drogas e bebidas Alcoólicas e o
aumento da violência, especialmente de quinta-feira a domingo. Ao enfatizar o
baixo contingente de policiais no Maranhão, fato que agrava a luta contra a
criminalidade, o promotor teve a contribuição do presidente do Sindicato da
Polícia Civil, Amon Jessen. Este informou a ausência de delegados de polícia em
136 cidades maranhenses e que, em outros 86 municípios, não há nenhum policial
civil.
Propostas
O
promotor, que também é coordenador do CAOp-CEAP, propôs a reedição da Central
de Inquéritos, com o objetivo de padronizar a análise das comunicações de
prisões em flagrante; além do acesso dos promotores de justiça, defensores
públicos, juízes e advogados aos sistemas das Secretarias de Estado de Justiça
e Administração Penitenciária (Sejap) e Segurança Pública.
Outra
proposta é a atuação permanente do Gabinete Dirigente de Gerenciamento de
Crises do Estado, criado pelo Decreto nº 19.499/2003. Cabe ao gabinete,
supervisionar, coordenar e buscar soluções para as ocorrências relacionadas ao
sistema de segurança pública maranhense. A atuação do MP nas Unidades de
Segurança Comunitária (USC) também foi sugerida na audiência.
Para
o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB/MA), Luis Antonio Pedrosa, os criminosos, atualmente, agem de forma
sistemática. "Os ataques são realizados de forma organizada e revelam uma
sistematicidade. O sistema precisa atualizar estratégias frente a esse novo
cenário. Estamos pagando um preço muito alto pela desarticulação e falta de
atualização da segurança pública", avaliou.
Na
avaliação do juiz federal Ivo Anselmo Hohn, a violência é um fenômeno
generalizado em nossa sociedade. "Tivemos mais três presos decapitados e
há a banalização do mal. Saímos da fase de ignorar a violência, que é algo
terrível, para uma pior ainda, em que muitas pessoas comemoram a violência,
aplaudindo as decapitações no presídio. Hoje, a violência adquire ares banais
no cotidiano, comemorada nas redes sociais". Para o representante do Poder
Judiciário, o que está fora da lei é o sistema penitenciário.
A
esse respeito, o secretário de Justiça e Administração Penitenciária, Sebastião
Uchôa, falou das dificuldades de lidar com a violência dentro dos presídios.
"Trabalhamos com o excremento de uma produção social criminosa".
Uma
das medidas acertadas no evento é a criação do Observatório da Violência. O
centro de pesquisa será abrigado na Universidade Ceuma, com participação de
pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão, da Unidade de Ensino
Superior Dom Bosco, Conselhos de Segurança, MPMA, OAB, Poder Judiciário,
Defensoria Pública, Associação Comercial do Maranhão, além dos órgãos de
segurança pública e outras instituições parceiras interessadas em acompanhar os
índices da violência. O objetivo é subsidiar o Poder Executivo na adoção e
direcionamento de políticas públicas de segurança.
Questionamentos
Após
a apresentação das autoridades, seguindo a metodologia da audiência pública, os
participantes puderam fazer perguntas e apresentar suas demandas. O médico
Arnaldo Albareli denunciou a ocupação ilegal dos espaços públicos pelos
flanelinhas e a cobrou uma resposta das autoridades. "Ninguém faz nada. Os
motoristas são extorquidos diariamente e ninguém faz nada. Não me sinto na
obrigação de dar dinheiro a alguém que não contratei por um suposto
trabalho".
O
conselheiro de segurança do 11º Distrito Policial, Antônio Alves de Sousa,
morador do São Bernardo, cobrou a participação dos conselhos nas reuniões
oficiais para definir planos de segurança e políticas públicas. "A
segurança pública deve ser feita respeitando e ouvindo o cidadão."
A
representante da Associação Comunitária do Parque Jair, Socorro Nunes, cobrou
projetos educativos e de formação profissional para os jovens da periferia.
"Sem ocupação, o jovem torna-se vulnerável à criminalidade. A consequência
da omissão do governo está nos presídios". Ela contou que morou na rua e
só conseguiu mudar a trajetória de vida com as oportunidades que recebeu de
algumas pessoas. "Hoje sou uma mãe de família e tenho minha vida estruturada.
Mas muitos ficam para trás por falta de oportunidades".
Já
o servidor Raimundo César Martins, da Secretaria de Estado de Direitos Humanos,
Assistência Social e Cidadania, classificou o sistema penitenciário maranhense
como "precário". "A privatização do sistema penitenciário é
criminosa e precisa ser investigada. O número de agentes também é insuficiente.
Enquanto esse problema ficar apenas no discurso, vão continuar cortando
cabeças".
Do imirante
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