Em frente ao cruzamento onde um
ônibus foi queimado há pouco menos de duas semanas, o rapaz olha para a poça de
água – tão turva que mais se assemelha a lama – e crava: “foi dali que eu
peguei líquido para apagar o fogo dos pneus do veículo.”
O nome dele é José Carlos Cardoso da
Silva, 38 anos. Trabalha como segurança em um bar de São Luís, mora na Vila
Sarney Filho e foi um dos primeiros a ajudar mãe e filhas queimadas na ação de
criminosos que atacaram o ônibus na noite do último dia 3. Juliane Juliane Carvalho
Santos, 22, e a filha Lorrane, de um ano e sete meses, estão internadas. A
filha Ana Clara, de seis anos, não resistiu.
“Saí de casa e vi a criança quase
agonizando e a mãe dela, correndo pelas ruas, pedindo socorro, com o corpo em
chamas”, relatou.
Leia,
abaixo, o depoimento de Silva ao Terra:
“Eu estava
em casa naquele dia – era uma sexta-feira, perto das sete e meia da noite. Ouvi
um barulho de ônibus freando e de repente gritos de ´Fogo! Fogo!’. Corri para
checar o que era e vi o veículo em chamas.
Cheguei
mais perto e vi a criança quase agonizando e a mãe dela, correndo pelas ruas,
pedindo socorro, com o corpo em chamas. A gente não esquece nunca mais uma
visão dessas, moça.
Resolvi
ajudar pegando água numa poça formada ali no asfalto (num buraco aberto na rua)
e comecei a jogar no pneu, já tinha gente cuidando das crianças. É muita
violência. Mas acho que, se tivesse sido comigo, eu matava um a um que fez
isso.
Sei que
posso fazer o que for, que aqueles gritos ainda vão ecoar na minha cabeça por um
bom tempo. Mas não vou mudar minha rotina por isso. Só tomo mais cuidado
porque, desde então, sinto a todo momento que é como se eu estivesse sendo
vigiado.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário