Ex-presidente do Senado,
José Sarney sempre foi fator de estabilidade para os governos do ex-presidente
Lula e da atual titular Dilma Rousseff; entretanto, ação do crime organizado
contra a população de São Luís, capital do Estado controlado politicamente pela
família Sarney, resgata realidade de velhas mazelas sociais do Maranhão; fiador
da aliança do PT com o PMDB, chefe do clã não aceitaria ter sua filha, a
governadora Roseana, isolada por uma intervenção federal, ainda que parcial,e
também quer apoio de Dilma a quem seu grupo indicar para a sucessão dela; mas
será possível ao PT dar um novo cheque em branco aos Sarney sem sofrer um forte
débito em sua própria conta política?; como se coloca o guiso nesse gato?
Desde os primeiros tempos do governo Lula, após ter sido isolado politicamente
pelo antecessor Fernando Henrique, Sarney tornou-se um fator de estabilidade da
primeira administração federal do PT. Nos últimos tempos, antes de passar o
comando do Senado, que presidiu por três vezes, a Renan Calheiros, Sarney
igualmente agiu como bombeiro diante das primeiras labaredas de crise entre o
estilo sem rodeios da presidente Dilma Rousseff e o gosto pelos floreios (e
cargos) dos caciques do PMDB.
Nos bastidores da política, Lula, Dilma e o PT
reconhecem que Sarney sempre foi de grande valia nos momentos mais agudos.
Agora, porém, a retribuição a ele pode custar politicamente caro demais ao
grupo que está no comando do País.
Nas manchetes de toda a mídia, o Maranhão
controlado desde a década de 1960 por Sarney e seu clã aparece em chamas. A
partir de uma situação de descontrole no Complexo Presidiário de Pedrinhas, em
São Luís, as ruas da capital passaram a ter ônibus incendiados a mando do crime
organizado e, em consequência, o sistema de transporte coletivo ficou
paralisado. Soube-se, no plano nacional, com base nas notícias em torno da
crise no setor de segurança do Estado, que cerca de 60 mortes haviam ocorrido
em Pedrinhas apenas no ano passado.
Nos últimos dias, a golpes de chuços – pedaços
de pau com pregos na ponta --, outros dois presos foram assassinados lá dentro,
onde as celas não têm portas e relações sexuais são praticadas em ambientes
coletivos durante as visitas. Em São Luís, enquanto isso, as velhas mazelas
sociais se ressaltaram, como policiamento, postos de saúde e escolas em número
insuficiente e de baixa qualidade. O caos administrativo do Maranhão ficou mais
uma vez patente.
EXIGÊNCIA DE APOIO - Nesse quadro, que mereceu como resposta a ação da Secretaria de
Segurança Pública do Maranhão, que garante ter preso os líderes dos ataques à
população de São Luís, o grupo do ex-presidente mantém a exigência de receber o
apoio do PT para o candidato que ela resolver lançar à sua sucessão. O
patriarca Sarney e os seus querem, desse forma, amarrar localmente o partido da
presidente Dilma para, em trocar, trabalharem pela manutenção da aliança
nacional dela com o PMDB.
A própria presidente afirmou mais de uma vez
que tem todo interesse em ter o PMDB ao seu lado, desejosa até mesmo em repetir
a chapa vitoriosa em 2010, com o vice Michel Temer. O problema é a veloz
deterioração no quadro do Maranhão, o que não estava nos planos de nenhuma das
partes envolvidas nessa equação política.
Ainda abatido por uma recente e difícil
internação hospitalar, Sarney procura, como era de se esperar, preservar sua
filha e seu poder, mas suas forças já não são as mesmas de antes. Sua
influência no PMDB permanece grande, mas não há condições, neste momento, de a
legenda emprestar-lhe uma retaguarda segura. Em ano eleitoral, sabe-se, é
sempre muito complicado e desgastante hastear bandeiras em defesa de gestões
pouco populares.
Não se sabe no PT, até agora, quem será capaz
de dizer a Sarney que as circunstâncias mudaram. Como registra o jargão
político, ninguém no partido se escalou para colocar o guiso no gato – e dizer
ao ex-presidente que a legenda vai tomar outro rumo na eleição maranhense de
2014 em relação à governadora.
A mesma dificuldade se daria no campo de uma
hipotética intervenção federal no Estado. O principal opositor dos Sarney no
Maranhão, Flávio Dino, aponta condições jurídicas para uma intervenção, mas
nega condições políticas para tanto.
Em eleições anteriores, sempre que foi
pressionado por lideranças do PT maranhense, desconfortáveis com a aliança com
os Sarney, Lula tinha uma resposta na ponta da língua. "Não posso ganhar o
Maranhão e perder o Brasil", dizia.
Hoje, o desconforto, no PT, para uma aliança
com o candidato que vier a ser indicado por Roseana Sarney é ainda maior. E
isso pode ter repercussões no plano nacional.
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