O império de comunicação da
família Sarney tornou-se um privilégio de dois gumes. Afiliada à Globo, a TV
Mirante, joia do conglomerado, vê-se na contingência de levar às residências do
Maranhão o noticiário sobre a crise no sistema prisional do Estado. Uma crise
que debilita a gestão da governadora Roseana Sarney (PMDB) na ante-sala de uma
eleição em que ele vai tentar fazer o seu sucessor.
Para desassossego de Roseana, o caos
que se estabeleceu no centro penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, entrou na
pauta de todos os telejornais da emissora —do Bom dia Brasil ao Jornal da
Globo, passando pelo Jornal Nacional. Com isso, a TV Mirante, dos Sarney, virou
a principal difusora das reportagens que roem a imagem da filha de José Sarney.
A novidade levou o governo a se
mobilizar para tentar produzir contrapontos às novidades adversas. Na noite
deste sábado (28), por exemplo, Willian Bonner leu noJornal Nacional: “O
Conselho Nacional de Justiça constatou que são 60 os presos assassinados no
complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, em 2013. Neste sábado (28) ,
a Polícia Militar assumiu a responsabilidade pela segurança do presídio.”
Seguiu-se a exibição de uma reportagem de 2min45s.
Fenômeno nacional, a falência do
sistema carcerário exige reformas lentas e profundas. Mas crises como
a que acontece no Maranhão reclamam soluções emergenciais. Considerando-se o
modo como se comportava antes de o CNJ intervir no tema, o governo maranhense
parecia não dispor de solução. Pior: não enxergara nem o problema.
Pai da governadora, o senador José
Sarney (PMDB-AP) valera-se do microfone da Rádio Mirante AM, outra emissora do
império familiar, para dizer coisas assim:
“Aqui no Maranhão, nós conseguimos que a violência não saísse dos presídios
para a rua.” Afora o desapreço pelos direitos dos presos, Sarney parece ignorar
um detalhe: não há no Brasil a pena de morte. Nem a prisão perpétua. Quer
dizer: quem sobrevive à cana está condenado à liberdade. Tratado como bicho, o
detento vai ao meio-fio como fera.
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