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domingo, 8 de dezembro de 2013

Pesquisa mostra que metade dos brasileiros teme ser assassinados

Metade dos brasileiros têm “muito medo” de morrer assassinados e quase um terço acredita que pode ser vítima de homicídio nos próximos doze meses. O índice de homens que se sentem seguros para andar nas ruas do bairro onde vivem é de apenas 26,7%. Entre as mulheres, essa proporção cai para 18,7%. Os dados assustadores sobre o pânico da população em relação à violência urbana são da Pesquisa Nacional de Vitimização, divulgada ontem pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e com o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Um dos coordenadores responsáveis pela metodologia da pesquisa, o professor da UFMG Cláudio Beato, que considerou os dados “surpreendentes”, destacou a amplitude do levantamento divulgado. “Nós temos esse tipo de pesquisa na Inglaterra, no México. Os Estados Unidos fazem isso, por exemplo, desde os anos 1960. Há também dados feitos pela ONU e pesquisas brasileiras, mas nenhuma de abrangência nacional até agora”, descreve. Uma das revelações mais interessantes, segundo Beato, é a baixa procura da polícia por parte da população. Entre os entrevistados, só 19,9% registraram boletim de ocorrência sobre os crimes sofridos um ano antes da pesquisa. “Há essa diferença entre o que é notificado e o que efetivamente ocorre”, diz.

O levantamento, que ouviu cerca de 78 mil brasileiros, de 346 municípios de todas as unidades da Federação, entre 2010 e 2012, trouxe informações que permitem entender a dimensão da violência para além dos registros oficiais. Entre os entrevistados, 32,6% disseram já ter sofrido algum dos doze tipos de crimes listados em algum momento da vida, e outros 21% foram vítimas no ano anterior à visita dos pesquisadores. Entre os delitos pesquisados, o mais comum é a agressão física e verbal, sofrida por 14,3% dos ouvidos. A discriminação, como injúria racial, aparece em segundo lugar, com 10,7%, seguido pelo furto de objetos, com 9,8%.

Ferramenta

“Esse levantamento, junto com os registros de ocorrência das delegacias e outras pesquisas, vai servir para desenhar e avaliar a política de segurança pública. Ela tem que ser encarada como uma ferramenta para a melhoria dos serviços”, disse a titular da Senasp, Regina Miki. Ela ressaltou que, embora a responsabilidade pela área de segurança seja dos estados, a pesquisa ajudará o Ministério da Justiça a “induzir na direção certa” a condução das políticas para o tema.

Todos os dados obtidos durante o levantamento podem ser organizados de acordo com critérios como renda, raça, gênero, idade e nível de escolaridade dos entrevistados. O relatório também disponibiliza informações em termos geográficos. A Região Norte, por exemplo, concentra a taxa de pessoas que disseram ter sofrido algum crime. No topo do ranking, está o Amapá, onde 46% se disseram vitimados nos 12 meses anteriores, seguido do Pará, com 35,5%. No outro extremo está a Região Sul. Santa Catarina aparece com o menor índice, apenas 17%.

O levantamento foi dividido em três áreas principais: a primeira é a vitimização propriamente dita, isto é, os crimes sofridos pelos entrevistados, e se foram registrados ou não; a “percepção de segurança” dos entrevistados, com perguntas sobre o quanto eles se sentem seguros em diversas situações; e uma avaliação sobre o desempenho das polícias. Conduzida pelo Instituto Datafolha, a pesquisa envolveu 2.285 pesquisadores de campo treinados pela UFMG. Todos os 346 municípios têm mais de 15 mil habitantes.

“Censo” da violência

A Pesquisa Nacional de Vitimização, divulgada ontem, trouxe índices assustadores sobre a segurança pública do país e a forma como a população encara o problema da criminalidade. Veja algumas das informações extraídas do extenso levantamento:

» 32,6% dos brasileiros já sofreram algum crime durante a vida

» 21% foram vítimas no ano anterior à pesquisa

» Apenas 19,9% registraram ocorrência

» 46% dos entrevistados do Amapá já foram vítimas, maior taxa no país

» 17% dos ouvidos em Santa Catarina já foram vítimas, menor taxa no país

» 14,3% dos que sofreram crimes foram agredidos

» 71% dos brasileiros temem o roubo à residência

» 18% confiam “muito” na Polícia Militar, mas 77% disseram confiar

» Em Minas Gerais, 26% confiam “muito” na polícia, maior índice no país


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