O mau humor e o clima
de terror propagado pela imprensa brasileira – que difundiu as previsões
pessimistas para os veículos de comunicação internacionais – e pela oposição ao
governo Dilma Rousseff (PT) teve efeito inverso. Pesquisa realizada pelo portal
Uol, do grupo Folha, divulgada nesta segunda-feira 30, aponta que boa parte dos
jornalistas estrangeiros vê a Copa do Mundo no Brasil como a melhor.
O
levantamento foi feito com 117 profissionais de comunicação que estão cobrindo
o evento no Brasil. Do total de entrevistados, 38,5% consideram a competição
sediada no País como a melhor já vista. Em segundo lugar vem a Copa realizada
na Alemanha, em 2006, com 19,7% das respostas, e em terceiro a da África do
Sul, em 2010, que recebeu a aprovação de 5,1% dos jornalistas entrevistados.
Na
quarta posição vem a Copa sediada nos Estados Unidos, em 1994, quando o Brasil
recebeu o título de tetracampeão, seguida por Itália-1990 (com 3,4% dos votos),
França-1998 (3,4%), Japão e Coreia-2002 (3,4%), México-1986 (1,7%), México-1970
(1,7%) e Alemanha-1974 (0,9%). Entre os entrevistados, 1,7% não respondeu.
Segundo a pesquisa, 16,2% dos profissionais disseram estar cobrindo o primeiro
Mundial.
Há
cerca de 20 dias, quando a Copa desse ano ainda não havia começado, seria praticamente
impossível prever os números que acabam de ser apresentados na mostra, tal a
sensação propagada pelos grandes jornais brasileiros de que tudo daria errado.
As obras inacabadas, dificuldades nos meios de transporte e até a previsão de
uma epidemia de dengue eram destaques nos veículos da imprensa.
Vê-se,
porém, que depois da satisfação dos torcedores estrangeiros, que ressaltam com
frequência a hospitalidade do povo brasileiro e a satisfação em conhecer o País
– como podemos ver agora em reportagens diárias – que os jornalistas
estrangeiros também concluíram que tudo não passou de um grande exagero.
Abaixo,
reportagem da Agência Brasil sobre a opinião dos torcedores, publicada no dia
22:
Torcedores
estrangeiros afirmam que Copa no Brasil é a melhor de todas
Com a
experiência de oito mundiais, o irlandês Daniel Sheahan, de 55 anos, não
pestaneja: "a atual Copa do Mundo está sendo a melhor de todas". A
opinião de Sheahan é compartilhada por diversos turistas que, como ele, já
participaram de outras edições do torneio.
"Não
que tudo esteja perfeito. Em todas as copas às quais fui, houve algum tipo de
problema, como preços altos, dificuldades com transporte ou roubos. Mas isso
faz parte de um evento desse porte", disse à Agência Brasil o irlandês,
que já teve a mochila roubada em duas edições do torneio.
"Isso
foi na Copa da França, quando duas pessoas pegaram minha mochila e fugiram em
uma moto, e na dos Estados Unidos, quando em um momento de distração levaram
minha mochila", lembrou. "No caso da França, um amigo meu passou pelo
mesmo problema. Ao que parece, era uma quadrilha de motoqueiros especializados
nesse tipo de roubo", acrescentou.
Fã do
futebol brasileiro, o irlandês sempre deu preferência aos jogos do Brasil, mas
nem sempre foi possível assisti-los, porque existem outros pontos de interesse.
"Esta Copa realmente tem muitas coisas especiais. Compará-la à da África
do Sul é até covardia – o barulho das vuvuzelas era insuportável e estragava o
clima do estádio. Para piorar, de todas as vuvuzelas saía muita saliva, o que
era bastante preocupante porque a incidência de doenças como tuberculose é
muito grande naquele país.
Por
aqui, não: os brasileiros procuram se divertir sem incomodar os outros.
"Nota-se claramente uma grande vontade de tornar tudo especial. Isso não
aconteceu na Copa da Alemanha, porque, apesar de muito educados, os alemães
costumam ser frios na relação com turistas". Além das quatro copas citadas
– Estados Unidos, em 1994; França, em 1998; Alemanha, em 2006; e África do Sul,
em 2010 – e da atual, Daniel Sheahan foi às copas da Espanha, em 1982; do
México, em 1986; e da Itália, em1990.
Impressão
parecida tem o equatoriano José Bastidas, de 31 anos. "Não é apenas a
vontade dos brasileiros de ajudar os turistas. Aqui há muito mais festas e uma
comunicação mais fácil, até pelas semelhanças com outras línguas. É mais fácil
entendermos e sermos entendidos pelos brasileiros", disse ele.
A
Copa de 2014 é a quarta do suíço Domenique Brenner, de 40 anos. "Na
comparação com as de 1998, 2006 e 2010, esta é a melhor, porque está sendo
disputada no melhor lugar e com as melhores pessoas", afirmou. "A
organização do evento é sempre bastante similar, porque envolve a mesma
estrutura, que é a estrutura da Fifa."
A
maior crítica de Brenner é em relação aos caixas rápido dos bancos no Brasil,
que tem usado para evitar a ida a casas de câmbio. "Muitas dessas máquinas
não têm aceito cartões internacionais", queixa-se.
Brenner
e outros suíços entrevistados pela Agência Brasil reclamam do preço dos
restaurantes nas cidades sede e das bebidas nos estádios. "Apesar de muito
bons, os restaurantes são muito caros. Principalmente as churrascarias",
disse Brenner. Já Denis Rapin, 47, avalia que nem tudo é tão caro, levando em consideração
o fato de que se trata de uma Copa do Mundo. Ele viaja com um grupo de 20
pessoas.
Para
Rapin, os preços cobrados na cidade não são tão altos quanto imaginava.
"Quem cobra caro aqui é a Fifa. Principalmente a cerveja nos
estádios", disse. "Esta é a minha primeira Copa do Mundo, mas não
será a última. Esses dias têm sido muito agradáveis. A receptividade e a
amabilidade dos brasileiros realmente impressiona. Todos muito amigáveis, desde
o taxista até os profissionais da área de turismo. Em Brasília [onde assistiu à
partida, entre Suíça e Equador], senti falta de bares mais festivos. Acho que o
que falta aqui são bares típicos especializados em cachaça".
Dona
de uma lanchonete na Torre de TV, chamada GO Minas, Elza Alves Lobo não fala
inglês, mas usa de muita simpatia para compensar essa limitação, além de ter
preparado um cardápio em português, inglês, francês e espanhol. "Faço
questão de conversar ou tentar conversar com todos. O clima é de muito
entusiasmo, muita alegria."
Viajando
há sete meses pela América do Sul, Andre Urech, de 34 anos, vem pela primeira
vez ao Brasil, onde assiste à segunda Copa do Mundo. A primeira foi na África
do Sul. "Está tudo tão bom que já decidimos: voltaremos o quanto antes ao
Brasil. Simplesmente estamos amando as pessoas daqui", disse ele, ao lado
da companheira de viagem Ramona Rüegg, que também foi à Copa de 2010. Ela faz
coro: "a atmosfera aqui é muito melhor, e as pessoas muito mais
amigáveis."
Os
dois elogiam a organização do evento, apesar da dificuldade que vêm tendo com
transporte público. "Demorou cerca de 30 minutos para pegarmos um ônibus,
e o táxi está muito caro", contou Urech. "Mas tudo faz parte do clima
e do sentimento que envolve uma Copa do Mundo", completou.
A
exemplo de outros suíços que assistiram ao jogo contra o Equador, o casal
reclama principalmente da dificuldade para comprar cerveja. "A fila é
muito grande e faz a gente perder muito tempo do jogo. Mas isso também
aconteceu na África", disse ele.
Dirigente
do Barcelona de Guayaquil, no Equador, Carlos Rodríguez também avalia esta como
a melhor Copa de todos os tempos. "É muito superior tanto dentro como fora
de campo", disse.
"Uma
coisa que me chama a atenção é o fato de ela [Copa] estar sendo totalmente
diferente do que vinha sendo mostrado pela imprensa. O Brasil é 100% no que se
refere a receber turistas. Tudo é perfeito: a hospitalidade, a estrutura. Além
disso, há muito amor e alegria no ar. Viemos para cá justamente para desfrutar
desse clima de Copa", afirmou Rodríguez.
O
publicitário colombiano Héctor Greco, de 33 anos, também foi surpreendido
positivamente pelo Mundial brasileiro. "Eu esperava muito menos. O que
mais me surpreendeu foi a troca de cultura entre os países em um clima de
competitividade sem brigas. É uma oportunidade única de conhecer o mundo em um
só lugar."
Ele
lamenta as grandes distâncias que têm de ser percorridas para que se possa
acompanhar os jogos. "As passagens de avião são caras, é difícil ir de
ônibus e infelizmente não há uma cultura de transporte de passageiros por meio
de trens no Brasil". Para o publicitário, a hospedagem também está muito
cara: "pagamos R$ 21 mil para alugar, por um mês, um apartamento no Rio de
Janeiro".
Já o
cirurgia plástico e cônsul honorário do Equador em Campinas, Oswaldo Vallejo,
de 56 anos, já gastou, entre passagens, hospedagem e ingressos para os jogos,
mais de R$ 18 mil para ter sua primeira experiência em Copa do Mundo.
"Conheço
pouco Brasília porque cheguei há apenas um dia, mas o deslocamento do hotel até
o estádio foi bastante fácil, pela proximidade. Esta realmente é uma grande
vantagem para a cidade", disse ele, em meio a elogios em relação à
divulgação, às placas e aos voluntários "proativos e sempre tentando
ajudar até mesmo nas situações em que não precisamos."
Depois
de enfrentarem mais de 8 mil quilômetros de viagem por ônibus, vindos de Quito,
no Equador, o administrador Paul Tamayo e os engenheiros Alvaro Granda e Edgar
Baculima optaram por acampar na Universidade de Brasília (UnB). Tudo, para
assistir à estreia do Equador na Copa.
O
perrengue não diminuiu o entusiasmo: "O Brasil é muito bonito, assim como
as pessoas", observou Tamayo. Perguntado sobre os preços na capital,
Granda respondeu: "de preços, não falamos. Viajar até aqui foi bastante
duro, mas, com a vontade de ver o Equador jogar, tudo fica mais fácil".
Quem
também viajou muito para viver a experiência da Copa foi o australiano Victor
Vu, de 28 anos, na esperança de ver algum país asiático ou africano vencer a
competição. "Torço principalmente para a Costa do Marfim por causa do
[atacante] Drogba, de quem sou fã. Mas o que realmente me motivou a vir foi a
boa reputação que o Brasil tem lá do outro lado do mundo, especialmente no que
se refere a festas."
Apesar
de seu país não ter se classificado para a Copa, Jan Kolin, da República Checa,
quis vir ao Brasil para vê-la sendo realizada "no país mais
bem-sucedido" no mundo do futebol. "Desde criança eu sonhava em ver
uma Copa. Quando soube que ela seria no Brasil, decidi tornar esse sonho
realidade", contou Kolin, que enfrenta problemas de comunicação, já que,
segundo ele, poucos falam inglês no Brasil.
Os
peruanos Marcial Olano, de 55 anos, e Hérman Chávez, de 45, também não
precisaram da participação de sua seleção no Mundial para decidirem curtir a
Copa no Brasil. "Queremos que um país sul-americano ganhe porque somos
povos irmãos integrando uma mesma torcida", disse Olano.
Chávez
veio para realizar o sonho do filho Jared, que tem 13 anos. "Não
esperávamos tanta organização. Isso em muito nos surpreendeu. Está melhor do
que havíamos sonhado. Não passamos por nenhum tipo de problema, temos sido bem
atendidos e a organização das cidades e da Fifa está muito boa. Por isso já
planejamos ir à Copa da Rússia para, se tudo der certo, torcermos pela seleção
de nosso país [Peru]".
Pela
primeira vez no Brasil, os engenheiros Andres Navaez e Elizabeth Montenegro,
ambos equatorianos, também se dizem apaixonados por futebol. Por isso, já foram
às copas da África do Sul e da Alemanha. Segundo ele, Brasília carece de um
atendimento mais eficiente aos turistas
"Faltam
informações até mesmo no Centro de Convenções, de onde retiramos nossos
ingressos. Lá não souberam nos informar sequer onde fica o atendimento aos
turistas", disse Elizabeth. "A sorte é que espanhol e português são
línguas parecidas", completou Navaez.
O
suíço Lionel Holzaer, de 30 anos, não é fã de futebol, mas adora festas e
viagens. Segundo ele, o Brasil tem "boas condições" para receber os
turistas. "Minha maior dificuldade tem sido com o idioma".