Governo
brasileiro e Banco Mundial se unem para transferir a experiência do programa,
que tirou milhões da pobreza e acaba de completar dez anos, a países em
desenvolvimento que "usam o exemplo do Brasil como inspiração", como
define a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello; ela foi a
Washington nesta quinta-feira 30 a convite do organismo internacional, a fim de
explorar a parceria; possível ação será criar uma plataforma tecnológica para
compartilhar informações e resultados do "programa mais estudado do
mundo"; estudo aponta que cada dólar investido pelo Estado gera 1,78
dólar de retorno

O programa de transferência de renda que virou referência do governo
brasileiro, Bolsa Família, acaba de virar produto de exportação. Isso porque, a
convite do Banco Mundial, que quer firmar uma parceria com o Brasil, a
iniciativa implementada no governo Lula que tirou milhões de brasileiros da
pobreza deverá ser transferida para países em desenvolvimento interessados em
investir nos mais pobres.
De acordo com a ministra Tereza Campello, do Desenvolvimento Social, os
parceiros são países que já "usam o exemplo do Brasil como
inspiração". Uma das ações sugeridas é criar uma plataforma tecnológica
para transferir informações e resultados do Bolsa Família, definido pela
ministra como "o programa mais estudado do mundo".
Nesta quinta-feira 30, Tereza Campello viajou a Washington para se reunir
com altos funcionários do organismo internacional a fim de explorar a parceria
com o Brasil. O objetivo principal da união é assessorar países interessados em
impulsionar "mecanismos" de ajuda a famílias menos favorecidas.
Nesta sexta-feira 31, aproveitando sua passagem pela capital dos Estados
Unidos, a participação da ministra em um seminário organizado pela ONG Center
for American Progress, próxima da Casa Branca, reafirma a importância do
programa e o interesse que ele desperta no exterior.
Um
estudo do Ipea
divulgado em outubro em decorrência dos dez anos do programa revelou o impacto
econômico da iniciativa no País. O levantamento aponta que se o Bolsa Família
fosse extinto, a pobreza passaria de 3,6% para 4,9%. "É um impacto de 28%
e o efeito aumenta ao longo do tempo", disse na ocasião Marcelo Neri,
presidente do Instituto.
Ainda segundo a pesquisa, "cada real gasto com o Bolsa Família impacta
a desigualdade 370% mais que a previdência social" e faz a economia girar
240%. O presidente do Ipea afirmou que, comparado com outras despesas, o
programa consome poucos recursos (0,5% do PIB). "Os EUA gastam 2% do PIB
com programas sociais, e os países europeus ainda mais", lembrou.
Nessa semana, a ministra Tereza Campello também lembrou, agora que o produto
é tipo exportação Made in Brazil, que cada dólar investido pelo Estado gera
retorno de 1,78 dólar.
Abaixo, texto e vídeo sobre a parceria publicados no Blog do Planalto:
Banco Mundial: Bolsa Família aponta soluções para o mundo
O Banco Mundial considera o programa Bolsa Família uma experiência
importante que contém lições a outros países sobre políticas de redução da
desigualdade social. "Montar um sistema de proteção social não é apenas
algo que pode ser feito, mas que deve ser feito e que é possível", disse o
diretor de Proteção Social do Banco Mundial, Arup Banerji, durante o painel
Bolsa Família, uma década de inclusão social no Brasil, nesta quinta-feira
(30), em Washington, nos Estados Unidos.
"O programa mostra que é possível estabelecer metas ambiciosas,
colocando o foco das ações nas famílias", elogiou Banerji. "Além
disso, aponta que se pode buscar e produzir evidências científicas para
implementar e aprimorar o programa". Ele e outros diretores do Banco
Mundial estiveram reunidos com a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, Tereza Campello. Com a política de transferência de renda, 36 milhões de
brasileiros se mantêm fora da linha de pobreza do ponto de vista de renda.
Tereza Campello apresentou à diretoria do Banco Mundial os resultados da
experiência brasileira. "O Bolsa Família é hoje o carro-chefe do governo
brasileiro na área social", comentou. "O programa foi um dos vetores
estratégicos das mudanças alcançadas pelo Brasil nos últimos anos, embora não
tenha sido o único".
Para o vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina, Hasan Tuluy,
a retirada de 36 milhões de pessoas da extrema pobreza é uma conquista
memorável e exemplo para outros países. "Não apenas apoiamos a execução do
programa no país desde 2004, como também aprendemos muito", disse.
"Temos tido a chance de falar sobre o Bolsa Família a outros países, para
que se inspirem na experiência brasileira antes de implementar programas
sociais."
Diretora do Banco Mundial, Sri Mulyani, enfatizou que o primeiro passo na
implantação de um programa como o Bolsa Família em outros países é estabelecer
o público-alvo, identificar e registrar as famílias em situação de miséria, o
que constitui um desafio principalmente para as nações mais pobres. "O
Brasil, com o tamanho e a complexidade que tem, nos provou que é possível
administrar um programa como este e nos deu lições sobre oferta de serviços e
redução da pobreza focada nos segmentos mais jovens da população",
analisa. "Mas não se pode subestimar o desafio que o país ainda irá
enfrentar para conseguir chegar àqueles que ainda não foram alcançados pelas
ações."